quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Homo Arrogantis



No princípio, o homem criou Deus à sua imagem e semelhança.

E viu que era bom!

Aliás, viu que era mais que bom.

Como Bombril, tinha mil e uma utilidades: servia para justificar fortunas ganhas, territórios conquistados; servia como objeto de temor para se respeitar regras arbitrárias e mais do que tudo, era perfeito para ratificar a superioridade do homem sobre todos os outros animais e sobre o planeta como um todo.

O próprio homem pôs na boca de Deus estas palavras: "E Deus os abençoou (Adão e Eva), e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra".


Antes disso, a equipe criativa do homem (a Igreja) para esses assuntos escreveu na sua obra-prima, a Bíblia, assim: "E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas".

Ou seja, o sol, a lua e as estrelas não passam de lâmpadas no céu para iluminar o homem na sua casa, a Terra.


Ainda hoje, apesar de todas as descobertas científicas, muita gente acredita nisso.

Mesmo que se ensine nas escolas que o próprio sol é apenas mais um dos bilhões de estrelas que existem no universo, e que girando em volta de cada uma dessas estrelas existem incontáveis planetas, mais ou menos parecidos com o nosso, o que faz com que a probabilidade de existir vida extraterrestre seja absurdamente gigantesca, ainda acreditamos que somos os únicos seres inteligentes do universo e únicos filhos de Deus, porque, afinal fomos criados à sua imagem e semelhança, ou vice-versa.


E assim como legítimos donos da Terra, vamos levando a vida obedecendo com excelência à palavra de Deus: frutificando, multiplicando, enchendo o planeta e o dominando.


O problema é que o arrogante homem esqueceu que por mais cidades e construções ele faça, por mais que ele se pense como uma entidade autônoma e independente do universo que, afinal, só existe como cenário e fundo de pano para ele atuar, ele sempre vai estar sujeito às leis da natureza.

Estas, sim, regem supremas.


Esse multiplicar e encher a Terra sem limites ao longo dos séculos esbarra na saturação dos recursos do planeta e em todo o desequilibrio ambiental que tanto tem se falado ultimamente. Não existe mais pra onde se crescer.

Na verdade, o ponto de saturação já foi ultrapassado há muito tempo.


O planeta não é do homem.

Ele é apenas mais uma espécie viva que o habita.

E deveria existir em harmonia com os outros animais e a natureza.

Não é o caso de se pregar que todo mundo volte a viver na floresta, claro que não é isso.

Mas um pensamento menos arrogante e mais lúcido nortearia cada ação do nosso dia a dia.

Os ambientalistas se esforçam para conscientizar a população a mudar alguns hábitos como reciclar lixo e coisas do tipo, mas isso é pouco.

Políticas macro que envolvam redução do crescimento econômico, criação de grandes áreas internacionais de preservação ambiental e forte controle da natalidade devem ser estudadas e implementadas.


É fundamental uma mudança de pensamento: A civilização não pode e não precisa mais crescer e o planeta não foi feito para o nosso dispor, somos apenas parte dele, mas como única espécie inteligente (há controvérias), temos a obrigação de consertar as coisas, até porque fomos nós que o danificamos.